Lá vem ela de novo.
Puta que pariu!
Por Deus e minha N. Sra dos caras babões, até quando suportarei?
É tudo igual, todos os dias o mesmo ritual, a unica coisa diferente é o tamanho das roupas. Sempre diminuindo... diminuindo...
Mas está decidido, não posso viver assim para sempre(ou posso?!). O fato é que não quero o fantasma de Fernandinha agitando minhas calças todo santo dia, aliás, de santo, meus dias, não têm nada.
E o ritual começa:
Ela vem dessa vez com um quase-sorriso-tímido escondido na canto da boca, diz o famoso: "Oi, seu Chico", fala algo sobre o dia, sobre o clima quente e comenta que a unica coisa que precisa nesse exato momento é um sorvete de limão, diz o "Tchau, seu Chico" e segue em direção à pracinha.
Praça essa que deve receber tamanha gostosura, aliás, corrigindo porque esse palavreado não combina com o "seu Chico" aqui.
Pracinha essa que deve receber tamanha formosura de braços abertos.
Aaargh...Formosura?
Aposto que ela m lançaria um olhar de reprovação.
Mas voltando à tal passada cheia de rebolados:
Lá vai Fernandinha, e eu pela primeira vez vou atrás. Sigo-a feito cão seguindo a fêmea no cio. Perdoe-me a expressão mas é que ela lança o seu cheiro contra mim e meu pobre corpo atordoa-se. É sempre assim. Sinto-me um adolescente de 15 anos.
Ela olha pra trás, me vê, mas finge que não vê, capricha mais ainda no rebolado. Pára no carrinho de sorvete pede um, olha pra mim de canto de olho (continuo querendo me camuflar para fingir que não estou ali por causa dela) e pede: "Quero de limão, por favor".
Paga. Pega...
Pega O SORVETE e senta-se num banquinho de frete pra mim, à uma distância razoalvelmente pequena.
E eu parado, cara de tolo, querendo esconder a vergonha na sombra que meu corpo suado produz, desejando também aquele sorvete.
Uma coragem (ou quem sabe uma vertigem) me faz ir ao encontro de Fernandinha, que continua descarademente entretida com o seu "sorvete de limão". Me aproximo com cuidado, como se estivesse com medo de acordar um bebê(ou seria uma leoa?):
- Oi seu Chico.
- Oi, D. Fernanda.
- F-E-R-N-A-N-D-I-N-H-A, pode chamar de Fernandinha.
- Ah sim, desculpe.
- Tudo bem. Quer?
- O que?
- Sorvete, seu Chico. Que mais poderia ser?
- Ah, é mesmo, tem razão. Não obrigado.
- O sr. está bem? Parece pálido.
- Deve ser a claridade me pegando de frente, aí fica a impressão que estou pálido.
- Hum. Quer sentar?
- Não, não obrigado, mas só estou de passagem. Preciso voltar pra casa, tenho umas crônicas por terminar e só tenho até amanha pra enviar pro jornal.
- Então tá. Tenho lido muito suas crônicas.
- É? E o que acha?
- Adoro o que escreve. A que eu mais gostei foi aquela da jovem moça que atiça um vovô.
- Não diga!
- É. Seu Chico posso lhe dizer uma coisa? O sr. não vai me levar a mal?
"É agora", penso, "Chegou a hora da verdade. Agora ela vai confessar que se insinua, que sente tesão. Vai dizer que sabe que a jovem moça da cronica é ela e eu sou o tal 'vovô'. E se bobear até vei sussurrar em meu ouvido o que quer que eu faça com ela. Levo pra casa e pronto! Meus dias de paz voltarão."
- Pode falar, Fernandinha, sem essa de eu levar à mal.
- É que... é que...
- Sim, fale.
- Seu zíper tá aberto.
- O.o
(Por: Livia Queiroz)
CONTINUA...
As Cartas que não Rasguei n° 2
Há 8 anos